Monday, May 29, 2006

Autopsicografia

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

*** Será que você consegue ler a dor que eu sinto ao escrever? A cada palavra, a cada ponto, a cada parágrafo. Espero que o resultado te toque tanto quanto a mim. Estou fazendo com muito carinho.

Wednesday, May 24, 2006

O dever de externar o bom...

Ainda incrédula com a conversa surreal de ontem a noite.
É bem verdade que os textos mais profundos normalmente são decorrentes de uma grande fossa. Mas nada melhor do que escrever com o intuito de fazer alguém feliz. Usando as suas palavras:
"E a vontade de escrever que fez coçar seus dedos. E pelo Universo que pode ser legal, às vezes, bem às vezes."
Acho que esse blog vai ficar cheio de coisas novas :D.

Sunday, May 14, 2006

Unwell

"Você jamais será sócia do clube que te aceitam"

Me disseram essa frase há muito tempo.
Será verdade!? O fato é que às vezes a minha auto estima sofre um abalo tão poderoso que nem o senso de pragmatismo consegue superar.

ABALADA
Com tudo, com todos, principalmente comigo. Em dias como esse todas as obras do acaso transformam-se em incompetência e incapacidade. Pensei ser mais que isso...
P.S. Neste post exclusivamente, comentários não serão bem vindos.

Thursday, May 11, 2006

Projeto Releitura

Estava eu, nos meus devaneios de verdisse, entretida ouvindo o disco novo do Chico Buarque e resolvi que queria reler um conto do Tolstoi chamado "A sonata de Kreutzer". Eu não achei o conto, mas descobri um site adorável!
Como eu nao tinha visto isso antes!? Maravilhoso, cheio de biografias e textos curtos de todos os autores imagináveis. Pra quem gosta de boa literatura, vale a pena visitar! Eu achei até A Cartomante, de Machado de Assim que eu tava louca pra reler.
Muito bom mesmo!!!
P.S. Se alguem achar a tal sonata, deixa aqui o endereço!

Wednesday, May 10, 2006

ERRATA (Aldir Blanc)

Venho aqui corrigir a terrível injustiça de não ter colocado o nome do autor da música Catavento e Girassol, ficou paracendo que era composição da Leila Pinheiro. Fui pesquisar sobre o autor e acabei descobrindo muitas coisas interessantíssimas.
"ALDIR BLANC MENDES, compositor, nasceu na cidade do Rio de Janeiro (RJ) no dia 2 de agosto de 1946.Nasceu no bairro do Estácio, tendo residido também na Tijuca. Começou a compor na adolescência, época em que também aprendeu a tocar bateria. Foi como baterista que tocou no Teatro Azul e participou do grupo Rio Bossa Trio, que, com a inclusão de seu parceiro Silvio da Silva Jr., passou a se chamar GB-4. Em 1966, ingressou na Faculdade de Medicina, onde se especializou em Psiquiatria"
Aldir / João Bosco -
A mistura mineiro/carioca de João Bosco e Aldir Blanc foi, com certeza, uma das mais bem sucedidas parcerias da MPB. Lançados por Elis Regina, na década de 70. A genialidade da dupla está na perfeição de versos e melodias, na história do homem comum que tem sua glória de 15 minutos estampada no jornal, ou no cotidiano de casais, no terreiro de Candomblé, no bar da esquina.
O disco Catavento e Girassol foi gravado por Leila Pinheiro exclusivamente com composições de Guinga/Aldir Blanc.
Vou postar outra música inacreditavelmente linda que ele compôs.
O Bêbado e a Equilibrista
Composição: João Bosco / Aldir Blanc
Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos
A lua tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria um brilho de a...lu...guel
E nuvens lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas, que sufoco louco
O bêbado com chapéu coco fazia irreverências mil
Prá noite do Bra...sil, meu Brasil
Que sonha com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu num rabo de foguete
Chora a nossa pátria mãe gentil
Choram marias e clarisses no solo do Brasil
Mas sei que uma dor assim pungente não há de ser inutilmente
A espe...rança dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha pode se ma...chu...car
Azar, a esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista tem que continuar

Monday, May 08, 2006

Primo

"É Engraçado que muita gente me critica por ter amigos que falam mal de mim, amigos que me traem algumas vezes e mesmo assim amá-los com todas as forças, fechar os olhos para certos erros, enxergar só o que há de melhor. Você sabe por que eu faço isso? Porque há um grau de verdade que eu posso aguentar. Um grau de dignidade, de pureza de caráter, de idealização que eu sei que vai ser quebrada toda vez que eu cavar fundo demais na alma das pessoas."
A realidade e a felicidade só coexistem no mundo das idéias (pseudo realidade ou realidade paralela?). Fiz um conto sobre isso uma vez. Meu primeiro conto, "Primo". Eu tinha uns 18 anos, era uma adolescente existencialista e leitora compulsiva de Nietzsche. Por incríivel que pareça a cada dia eu vejo mais verdade naquele conto tão simples que eu escrevi e um dia queimei por vergonha (não sei de que).
Vou tentar ressussitá-lo e posto aqui no blog.
Começava assim:
Era uma vez um homem que queria matar a Felicidade...

Sunday, May 07, 2006

Catavento e Girassol

Catavento e Girassol
Leila Pinheiro

Meu catavento tem dentro o que há do lado de fora do teu girassol
Entre o escancaro e o contido, eu te pedi sustenido e você riu bemol
Você só pensa no espaço, eu exigi duração
Eu sou um gato de subúrbio, você é litorânea
Quando eu respeito os sinais vejo você de patins vindo na contramão
Mas quando ataco de macho, você se faz de capacho e não quer confusão
Nenhum dos dois se entrega, nós não ouvimos conselho
Eu sou você que se vai no sumidouro do espelho
Eu sou do Engenho de Dentro e você vive no vento do Arpoador
Eu tenho um jeito arredio e você é expansiva, o inseto e a flor
Um torce pra Mia Farrow, o outro é Woody Allen
Quando assovio uma seresta você dança havaiana
Eu vou de tênis e jeans, encontro você demais, scarpin, soiré
Quando o pau quebra na esquina, cê ataca de fina e me ofende em inglês
É fuck you, bate bronha e ninguém mete o bedelho
Você sou eu que me vou no sumidouro do espelho
A paz é feita num motel de alma lavada e passada
Pra descobrir logo depois que não serviu pra nada
Nos dias de carnaval aumentam os desenganos
Você vai pra Parati e eu pro Cacique de Ramos
Meu catavento tem dentro o vento escancarado do Arpoador
Teu girassol tem de fora o escondido do Engenho de Dentro da flor
Eu sinto muita saudade, você é contemporânea
Eu penso em tudo quanto faço, você é tão espontânea
Sei que um depende do outro só pra ser diferente, pra se completar
Sei que um se afasta do outro, no sufoco, somente pra se aproximar
Cê tem um jeito verde de ser e eu sou meio vermelho
Mas os dois juntos se vão no sumidouro do espelho

Thursday, May 04, 2006

Chico, quem mais?

Mil Perdões

Te perdôo
Por fazeres mil perguntas
Que em vidas que andam juntas
Ninguém faz

Te perdôo
Por pedires perdão
Por me amares demais
Te perdôo
Te perdôo por ligares
Pra todos os lugares
De onde eu vim

Te perdôo
Por ergueres a mão
Por bateres em mim
Te perdôo
Quando anseio pelo instante de sair
E rodar exuberante
E me perder de ti

Te perdôo
Por quereres me ver
Aprendendo a mentir (te mentir, te mentir)
Te perdôo
Por contares minhas horas
Nas minhas demoras por aí
Te perdôo
Te perdôo porque choras
Quando eu choro de rir
Te perdôo
Por te trair

Wednesday, May 03, 2006

Colcha de Retalhos

Estava relendo o blog B. Achei um dos meus únicos poemas.
Tão antigo e tão recente (tirando a estrofe das mentiras)


Colcha de Retalhos

Ainda me esforço em costurar tudo o que foi rasgado.
Enrolada numa colcha de retalhos, enclausurando minha fragilidade.

Sob a capa de tuas mentiras
Tuas juras imaginárias
Teu olhar apaixonado
Teu ar inocente de primeiro amor

Do fundo do poço, observo tua indiferença
Como posso?

Retalho
Reparto
Machuco
Recorto
Remendo

E por fim está pronto...

Remexe
Resiste
Rouba
Insiste
Rebenta
Destrói

E por fim está morto...

Ponto.

Tuesday, May 02, 2006

Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres

"Você precisa de garantia. Quer saber como eu sou para me aceitar?Vou me fazer conhecer melhor por você, disse com ironia. Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras. Sou irritável e firo facilmente. Também sou muito calmo e perdôo logo. Não esqueço nunca. Mas há poucas coisas de que eu me lembre. Sou paciente, mas profundamente colérico, como a maioria dos pacientes. Gosto muito das pessoas por egoísmo: é que elas se parecem no fundo comigo. Nunca esqueço uma ofensa, o que é uma verdade, mas como pode ser verdade, se as ofensas saem de minha cabeça como se nunca nela tivessem entrado? Tenho uma paz profunda, continuou ele, somente porque ela é profunda e não pode ser sequer atingida por mim mesmo. Se fosse alcançável por mim, eu não teria um minuto de paz. Quanto à minha paz superficial, ela é uma alusão à verdadeira paz. Antes de morrer se vive, Lóri"

Abaixo à sorte de um amor tranquilo

Seria a procura pela sorte de um amor tranqüilo apenas um disfarce para o pavor de entrar outra vez na dolorosa turbulência das grandes paixões?

E então todos os sentimentos deixam de ser brandos...

Às vezes morro de saudade de você.

Depois morro de raiva
Depois morro de indignação
Depois morro de ciúme
Depois morro de rir


Torno a morrer de saudade
Um dia ainda morro de amores