Sunday, September 16, 2007

Coquetel Molotov PARTE I - Dos cantores para alma


Quanto tempo dura o momento perfeito?
Ontem, no coquetel molotov, eu cheguei à conclusão de que o momento perfeito duraria exatamente o tempo daquela música. Ou seria aquela a trilha sonora do tal momento?

Eu fui ao show pra ver Nouvelle Vague e, é com vergonha que confesso, as outras atrações me interessavam pouco. Mas não são essas as melhores coisas? As que surpreendem?
O teatro estava lotado, muita gente em pé. Conseguimos, com sorte, dividir uma única cadeira num lugar de visibilidade razoável. Ia começar o show de Cibelle, e eu estava muito curiosa para conhecer os seus projetos, tinha em casa três ou quatro músicas, das quais gostava bastante, e só!
De repente, aquela figura exótica adentra o palco, solta um grande “PUTA QUE PARIU” ao ver a quantidade de gente que tinha no teatro, e começa a cantar. Era um som diferente, ousado, experimental e harmônico ao mesmo tempo, fazendo o queixo de cada uma das centenas de pessoas que estavam ali dentro cair.
Eu lembrei dos meus tempos de adolescência, quando era uma menina de 18 anos entrando de penetra nas festas homéricas que o meu pai costumava promover. Nesse dia específico, havia umas vinte pessoas na casa, mais os dois cantores.

Na verdade, um cantor e uma cantora, puxando uma cantoria que ia desde um bom forró pé de serra a pérolas da MPB. Três horas de muito álcool e muita música depois, ninguém tinha mais sugestão de repertório, risos e conversas se sobrepunham e chegou a parecer que a seresta ia "morgar".

De repente a cantora para, respira, vira o restante da taça de champagne, pede ao cantor que não a acompanhe com o violão e começa a cantar:

“Já conheço os passos dessa estrada sei que não vai dar em nada meu destino eu sei de cór...”

Seria “apenas” a música mais linda de todos os tempos, cantada por uma bela voz. Não foi! A música tomou conta da cantora e de todos os presentes, foi quase uma possessão em massa.

Não se conseguia mais ouvir a respiração das pessoas. Não que não ousassem respirar. A dor da música entrou em todos de uma forma que os sufocou.

Ficamos todos parados, enfeitiçados por todo aquele sofrimento, toda aquela beleza, toda aquela explosão que ecoava no terraço aberto e adentrava cada ponto sensível que estava presente.

“Vou colecionar mais um soneto outro retrato em branco e preto a maltratar meu coração”.

Quando a música acabou, a cantora, a primeira a “sair do transe”, deve ter estranhando um bocado a falta de aplausos. Acho que nem ela tinha visto o efeito que aquilo tinha causado. Estavam todos parados, atônitos, olhos marejados, tentando recuperar o fôlego. Alguém finalmente conseguiu aplaudir, a cantora entendeu o tamanho da confusão, deu uma grande gargalhada e puxou um coro de “Andança”.

“Vi tanta areia andeeeeeei”

Eu respirei fundo
Dei um beijo na bochecha da cantora, enchi o copo dela de champagne e o meu de vodka, acendi um cigarro e me perguntei quantos “cantores de alma” existiriam no mundo.

Nossa! O ar falta só de lembrar! Acho que assim como a música toma conta dos cantores, a história toma conta dos escritores (ou pseudo)! O restante de show de ontem vai ter que virar outro post.

Continua...

2 Comments:

Blogger Eduardo Magalhães said...

Oi oi! Blogueiro novo, vi no blog de um amigo e vim conhecer. Uau! adorei seu texto, me refiro principalmente ao ritmo dele!
gostei daqui!
beijos!
Ah parabéns pelo texto.
Adorei a atitude da Nouvelle do "puta que pariu" ao abrir as cortinas do teatro.

Nessas horas fico imaginando o que deve se passar pela cabeça daqueles cantores internaicionais
que ás vezes se apresentam para um público de até mais de 100 mil pessoas. Uau aquelas pessoas pagaram pra lhe assisitir! É uma pergunta e uma sensação que eu queria experimentar ao menos uma vez na vida, me digo isso desde adolescente. Sonho bobo talvez!

8:29 AM  
Blogger Unknown said...

Bom, to só de passagem por aqui...
Mas vou voltar sempre, admiro muito pessoas com desenvoltura pra escrever.

11:17 PM  

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